"(...) -Como eu gosto de você?

Eu gosto de você do jeito que você se gosta".

O Mundo no Engenho... e o ENGENHO do Mundo

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

A cultura da imaginação e a imaginação da Cultura - expressões da Arte, da Literatura, da Educação e outras expressões...

Perguntei a uma criança, que caminhava com uma vela' de onde vem essa luz?' No mesmo instante ela a apagou. 'Diga-me para onde foi, que eu lhe direi de onde veio'”

( Hasan de Basra, Os Sufis1)

Da palavra Cultura...

No século XVIII, o termo germânico Kultus simbolizava os aspectos espirituais de uma comunidade, enquanto que o francês civilization, representava, principalmente, os aspectos materiais de um povo. Foi em Edward Tylor que ambos foram sintetizados no inglês Culture. 2 Algumas obras mais antigas, também atribuem a origem, do latim Cultus ou, ação de cultivar. Vejamos: no sentido subjetivo, isto significa o alto grau de desenvolvimento da capacidade intelectual humana, patrimônio de idéias3 de épocas / lugares e seus respectivos povos. Um complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes4, enfim, toda produção sociocultural exclusiva de nossa espécie. Dessa forma, a saga humana reconstituída no decorrer do desenvolvimento da espécie em prol da própria sobrevivência é um inventário a respeito de como cada um dos diversos povos, dentro das mais diferentes sociedades, construíram, a partir de suas vivências, múltiplas culturas, constituindo, a Cultura, cuja as nuances há muito nos espanta e encanta. Os sere humanos buscam a sobrevivência lidando com o meio e com outras pessoas do mesmo grupo ou, de grupos diferentes de “dentro” e “fora” das suas sociedades, seja de uma mesma região ou lugar, mas todos objetivando a satisfação material e espiritual necessárias ao mínimo bem-estar. Como percebemos, o tempo e o espaço; o coletivo e o individual; o igual e o diferente, dentre tantos outros são conceitos históricos e socialmente construídos, carregados de simbologias importantes para que se entenda os relacionamentos que fazem da Terra, o que é: nossa morada... Justa ou injusta – mas espelho de nossas ações reais, em todos os tempos... E inspiradora por todos esses elementos, de nossas ações imaginárias, dialeticamente falando. Ou seja, para todo fato inexplicado, nascia e ainda nasce uma fantasia... Foi assim que o homem criou... Criou para explicar de onde viemos, o que somos e para onde vamos...

...De onde viemos, o que somos e para onde vamos é situar-se no mundo, questões que dentre muitas implicam em reflexões a respeito da “finitude” - que no terreno da horizontalidade é a única certeza do que está vivo-, e da “eternidade” - o divino na verticalidade e a temível incerteza de um depois... Como “gente” significa “identidade” ( sou, vou, pertenço...); como “humanidade” significa compreender o que nos permitiu atingir este grau de diferença em relação aos outros animais e se estamos agindo corretamente para nos preservar – preservando tudo que nos possibilita a vida, já que somos parte da Natureza... E significa ainda, valorizar as diferenças entre nós, adquiridas nessas experiências, sempre refutando as desigualdades. Em suma, o que nos interessa é a questão das identidades, das suas infinitas formas de linguagem, impressões e expressões. E são as investigações históricas que nos permitirão a compreensão da origem dos traços culturais, isto é, o particularismo histórico onde cada cultura segue o seu próprio caminho em função de eventos diferentes.5

Da imaginação...

A invenção do sagrado, talvez, tenha surgido exatamente nesse ponto – o da “identidade”. A religião, do latim religare - ligar, juntar, unir o homem à divindade -, tem sua manifestação visível nos cultos e nos ritos. Se faz presente nos mitos e reelabora arquetipicamente. Eles são a comunhão com o sobrenatural6 e, mesmo que sejam suas manifestações diversas, são constantes no inconsciente coletivo.

Os mitos não fazem parte da História, entretanto, sua simbologia extrapola o tempo, sendo readaptados em outras estórias ou histórias ( ao gosto do leitor). E é para entender o imaginário que os mitos são estudados. Decifrá-los é parte do quebra-cabeça que compõe a mentalidade dos povos. As lendas estão na alma popular e é o fabuloso personalizado transposto arquetipicamente até os nossos dias.

Bem mais tarde o antropocentrismo deslocou o foco do plano celeste para o terrestre. Mas, guardamos dentro de nós o fascínio por todo esse legado produzido por nossos antepassados. A diferença é que hoje é para fugir da aspereza cotidiana ou do tédio, que reinventamos a roda e criamos formas magníficas, aventuras, confusões e exorcizamos com isso o próprio medo. Imaginamos – pois é a imaginação que nos dá expectativas para crer em algo e continuar a viver. Talvez, reconstruindo como Bastian7, o mundo de Fantasia e, dessa forma, sonhar todas as noites que algo pode ser diferente amanhã...

“ O rio atinge os seus objetivos porque aprendeu a contornar obstáculos”

( Lao-Tsé – To te King8, séc. V ª C)

Pode ser que em sua caminhada no seio da rocha bruta, esse rio que corre nas veias e no coração se tenha dado conta do próprio poder de encantar, de ser útil e alimentar a vida, fez-se divino e, como divino eternizou-se na obra, transcendeu os tempos. Mesmo que barrem os seus cursos, sua força vital mina dos subterrâneos dos mundos, numa estante escondida duma biblioteca qualquer, prestes a emergir e revelar quando de um leve virar de página...

Fênix Cruz

Vale lembrar que este é um espaço de expressões e impressões pessoais: território livre de discursos e amarras. Quem quiser rigor científico deve migrar para lugares apropriados, pondo os pés em terras firmes.

Notas:

1SHAH. Idries. Os Sufis, Circulo do livro,1977.

2LARAIA. Roque de Barros. Cultura – um conceito Antropológico. Zahar, 1986, p.30/40

3Pequena Enciclopédia de Moral e Civismo. Cia do Material de Ensino / MEC; 1967, p. 134.

4LARAIA. Op. Cit.p.30/40.

5LARAIA. Idem idem, p.30/40.

6Pequena Enciclopédia de Moral e Civismo. Op. Cit., p. 134.

7Bastian é o personagem principal de “A História Sem Fim”, obra de Michel Ende, mais tarde, transformada em filme.

8Nova Escola. Abril, junho/julho de 2004, p. 66

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